Texto que o Escriba Valdemir Mota de Menezes copiou da sua lição na Universidade Metropolitana de Santos, no curso de Licenciatura em História.
Aula: 28
Temática: O Império germânico e o papado:
a Reforma Gregoriana e a questão das investiduras
Na aula de hoje e na subseqüente você vai conhecer as disputas
na Alemanha e na Itália, paises que mergulharam na
crise do período XIV-XV. Não é a toa que ambos só surgiram
como países no século XIX. Nesta aula, você vai conhecer a evolução do
conflito entre o papado e o Império Germânico, a chamada Querela das
Investiduras — momento em que a idéia imperial voltou ao cenário europeu
e a Igreja Católica sofre uma de suas mais profundas reformas. Nesse
período, Império e Igreja estiveram tentando mostrar sua força e acabaram
entrando em rota de colisão.
No fim do século IX, com o declínio do Império Carolíngio,
o território do reino foi dividido em três unidades: ocidental
(francesa), oriental (alemã) e a parte italiana. Tal divisão,
após muitos percalços deu origem aos três Estados nacionais. O império
então passou a ser uma abstração sem poder real: na Alemanha e no norte
da Itália os reis precisavam viajar para fazer valer seus direitos feudais.
Essa situação perdurou até o reinado de Oto I que, com astúcia e perseverança
conseguiu conquistar a Itália e submeter os magiares. Estes eram
exímios cavaleiros e foi preciso reunir cerca de 8 mil homens e encurralar
os magiares contra um rio para vencê-los. Com o feito, Oto I foi coroado
Imperador em Roma em 962, mostrando uma superioridade militar a oeste
do Adriático que há muito tempo não se via.
Diplomaticamente e sem suprimir a dignidade da nobreza, Oto I reduziu
progressivamente os seus poderes e buscou ampliar seus poderes de
soberano. Carregado de simbologia carolíngia e romana, Oto I conseguiu
transmitir seu poder para sua própria família sagrando sua esposa e filho
em Roma e constituindo a hereditariedade no trono imperial.
O seu neto Oto III (983-1002) transferiu a capital do império para Roma. Ele
pretendia dominar sem violência as várias entidades políticas que dividiam
a cristandade, constituindo um poder moral, universal e pacifista.
O Império Germânico assim fortalecido e imbuído da simbologia imperial
retoma uma questão importante: a da base do poder. Uma das justificativas
dada por reis e imperadores para a origem do seu poder era o mandato
divino, algo que foi questionado pela igreja já em princípios do século V.
Todavia, esse conflito entre poder secular e temporal permanecia adormecido,
tendo em vista não haver ninguém com poder político e militar para
dominar a Europa e fazer ressurgir a idéia de um Império — fato que começou
a mudar com Oto I. Assim, ocorreu um recrudescimento das críticas
da Igreja ao exercício do poder Imperial, com a Igreja tentando se livrar
da influência do Império, advogando a sua supremacia. Antes de esboçar
esse conflito retomaremos a conjuntura da Igreja.
A situação era marcada pelo nicolaísmo e pela simonia.. Nicolaísmo era o
nome dado a degradação do clero, pois a maioria dos religiosos vivia como
leigos, carregava armas e não respeitava o celibato. Já a simonia era o
espírito de lucro embrenhado nas igrejas, manifesto como o comércio de
objetos e relíquias sagradas, o tráfico dos sacramentos ou mesmo o leilão
dos cargos eclesiásticos. Essas situações estavam intimamente ligadas
ao mesmo problema: a participação de leigos na distribuição dos cargos
eclesiásticos. Os senhores feudais, nobres e reis utilizavam a nomeação
de religiosos submissos a sua vontade, sem levar em consideração a dignidade
moral, como forma de tomar as rendas do altar e obter favores do
clero.
Para alterar esse estado de coisas ocorreu a chamada Reforma Gregoriana,
que tentou exaltar e glorificar a posição da Igreja Romana. Na Reforma
Gregoriana, a estrutura da Igreja Católica ganhou um componente centralizado
sob a égide do papa, que muito se assemelhou a uma monarquia. A
reforma dava ao papa o caráter de infalibilidade e estipulava a livre eleição
do pontífice que era escolhido pelo clero romano. Para glorificar a Igreja, o
papa recebeu a tiara e o manto púrpura, revivendo o mito imperial.
Assim, no mesmo período vemos tanto o Império Germânico quanto o
Papado tentando reviver o poder, o esplendor e a simbologia do Império
Romano. Assim, os dois poderes ou entravam em acordo sobre o papel de
cada um ou se lançavam ao conflito cujas bases estavam dadas.
Em 1075 Gregório VII (1073 – 1085) se esforçou para aplicar a idéia de
que nenhum leigo poderia interferir na nomeação de clérigos para a Igreja.
Ele encontrou resistências entre os soberanos que perderam parte de seus
lucros. Esse conflito ficou conhecido como Querela das investiduras e a
resistência mais acirrada foi a do Imperador Germânico, pois este contava
justamente com o apoio desses cargos para manter seu poder. O ápice
desse conflito entre Império e papado ocorreu, então, sob o pontifício de
Gregório VII que, após ter coroado Henrique IV, chegou a excomungá-lo,
algo inédito.
A questão das investiduras destroçou o Império Germânico, que entrou em
guerra civil. Já a Igreja, no pontifício de Inocêncio III (1198-1216) conse118
guiu resgatar o poder eclesiástico fundando um Estado papal para proteger
Roma, utilizando a popularidade das ordens mendicantes, mas também
tendo a França como aliada. O novo Estado submeteu a Inglaterra e reformou
a Igreja para acabar com os descontentamentos. Todavia, com
a morte de Inocêncio III, retornaram as disputas com o império e com o
reino francês. Essas últimas desavenças resultaram na transferência do
pontifício para Avignon, na França, a partir do que, ocorreu o chamado
“afrancesamento” do papado.
Na aula de hoje você conheceu o conflito entre duas importantes
organizações do período a Igreja e o Império Germânico,
tendo como base a Querela das Investiduras. Esse
conflito entre papado e império aitngiu a Itália que vai ser o assunto da
próxima aula.
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